sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Ato 5

Você me feriu quando me disse que alguém amou você mais que eu.
Me feriu por ter, dessa maneira, diminuído minha ousadia.
Me feriu por me comparar a sua antiga companhia.
O que considerei inominável.

Feriu-me sem querer, é verdade, pois não se ateve ao peso de sua afirmação.
Não percebeu, não viu, não reparou na dor e na aflição causadas.
Não ouviu o grito agitado de viver essa minha condição.
Eu me pergunto se um dia essa ferida cicatriza.

Outra pergunta surge:
- Onde anda sua antiga companhia? Com quem e como?
Por quais territórios sua viagem prosseguiu?
Qual a bagagem e a passagem paga? E sua sombra?
Sim, sua sombra! Esta acompanhou seu corpo na travessia da separação?

Pergunto e cismo:
- Serei eu uma aberração! Onde está a minha?
Desligou-se de mim e não voltou... continua ligada à sua, sem que a note,
sem que lhe devote a atenção que ela, em súbitos lamentos, vocifera.
E, em todos os segundos, declara-se incapaz de superar o prejuízo que sua ausência causa.

E a poesia? Se fez na boca alheia? Seu lábio pronunciou uma palavra encadeada em outra?
Engatilhou esses disparos incontroláveis, resultantes da tentativa de fustigar o ar insano?
Falou com Deus e pediu-lhe, na forma das sobras que se tornou, algum alento,
a fantasia, ou ilusão, de ter de volta o alimento que nutria sua alma?

Eu me pergunto:
- Se tudo fiz, porque ao menos não presumiu o quanto uma afirmação destrói?
Eu lanço essa pergunta a você...
Lanço e ensurdeço...
ensurdeço porque temo.
set/2006

Um comentário:

  1. Caro MADEIRA, tenho um blog também chamado humanidades, o endereço é www.allancarone.blogspot.com/
    Gostaria que participasse e contribuisse com oblog, com seus textoe s eu contribuiria com o seu.
    ALLAN KARDEC PETERSEN CARONE

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